Zona de conforto

Não é novidade: desde que o mundo é mundo, algumas frases e outras tantas teorias, de tanto serem repetidas, viram uma verdade absoluta.

De um tempo para cá, os bacanas proclamam aos sete ventos que não gostam da tal “zona de conforto”. Uma área nebulosa que, dizem, paralisa, impede o crescimento, bloqueia a criatividade e congela a liberdade. Alguém imerso nesse estado de espírito está condenado ao sofrimento eterno. Dizem.

Nas grandes empresas, os mais poderosos gestores exibem seus feitos só possíveis porque saíram da tal zona nebulosa. É desafiador, defendem, mas as glórias só virão para os que ousarem abandoná-la e passarem a viver na zona do desconforto. Abaixo o conforto!

Piada de mau gosto.

Tudo que um pai e uma mãe querem é ficar na zona de conforto. Quietinhos. Em silêncio, se não for pedir muito. Quem sabe dormir 1 hora seguida ou não ter que ficar conferindo o celular a cada 15 minutos madrugada adentro.

Ora bolas, os gurus da autoajuda têm uma linda definição de zona de conforto, vendem muitos livros e serve de pano de fundo para muita palestra, mas não passa de uma linda peça de ficção.

Como eu disse, repetida à exaustão, enfeita a fala de quem quer parecer contemporâneo e, de lambuja, faz brilhar os olhos da plateia.

Não os meus. Zona de conforto, para mim, é aquela hora em que acabou a função toda da casa, sabe? Pernas cansadas estendidas no sofá, jantar encerrado, banhos tomados, cachorro passeado, dentes escovados, meia luz na sala, mochilas organizadas, louça lavada. Ah, louça lavada!

Não me tirem desse lugar, onde me perco no abraço dos guris, onde damos risadas e onde batemos papos divertidos. Enfim, conforto que não abro mão, o de estar parado no mesmo lugar enquanto a vida vai nos levando lindamente para novos desafios.

Essa é a zona que eu gosto. Não abro mão mesmo que nem sempre ela aconteça porque nela reside uma liberdade muito maior do que a de alguém colando post-it na parede em busca de criatividade. Nessa paz de um lar habita a maior de todas as inovações que não há autoajuda que te entregue: o amor.

Que fique claro, não me tirem da minha zona de conforto!
Evidente, quem inventou esse conceito presente nos “best seller” tem filhos criados ou nunca sonhou com a paternidade/maternidade.

Tudo o que uma mãe e um pai querem é o desconforto delicioso de uma vida com filhos batendo a porta para o resto da vida. E tenho dito.

 

 

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