Este texto não é sobre a Larissa Manoela

Se você não possui 18 milhões, o que mais deve ter causado espanto nesse enrosco familiar/empresarial envolvendo a atriz Larissa Manoela foi o abuso do maior valor que existe entre um pai e um filho, a quebra da premissa básica da parentalidade: a confiança.

Veja bem, tudo o que um filho quer é ser amado e protegido. E nem é pedir muito. Funciona da seguinte forma: nasce um bebê, fruto da relação de dois adultos. Ele não pede para nascer. E nasce. A partir daí, cabe ao pai e à mãe nutrir, proteger e educar. Independente de raça, credo e enxoval, o rito é este.

E nesta relação, tudo se faz possível graças à tal da confiança. Ela é natural, visceral. Os pais protegem, e o filho se apega ao ciclo: cuidado, sobrevivência, apego, amor. E confiança. É assim que é; é assim que deve ser. E no meio disso tudo, os perrengues das idas à Emergência, as birras, as lágrimas que rolam na primeira vez que te chama de papai, os primeiros passinhos ou o teste do nosso coração ao iniciar sua vida social noturna.

Não no caso da atriz mirim que fez fortuna e, ao que tudo indica, sofreu um abuso cruel dessa confiança. Era mais refém do que filha.

Sim, pais abusadores existem. São a pior espécie.

Abusam de algo universal: a pureza de um filhote. A inocência dos nossos filhos, me perdoem a comparação piegas, é um diamante bruto deixado em nossas mãos para ser lapidado. A metáfora é ruim porque o diamante é rocha e o coração de um filho é pura maciez. E mesmo assim, veja bem, todo o poder da lapidação desse diamante de pelúcia é nosso. Sim, poder. E você sabe, poder corre o risco de ser perigoso.

Da Larissa, o Brasil está se ocupando. Portanto, este texto não trata dela. É, na verdade, sobre minha preocupação com os Pedros, as Marias, os Fábios e as Clarices que ninguém enxerga e são abusados diariamente.

Ninguém precisa de uma fortuna para ser um pai abusador. E isso é o que mais me choca na história, que é sobre pais que se sentem livres para torturar. Não se engane, há abusos milionários, mas há ameaças sutis e diárias que também destroem um filho. Criam justificativas malucas, mas a verdade é uma só: não são pai e mãe. Pai e mãe algum faz um filho de refém.

Texto: @pai_mala

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