Começou. Vai se esvaindo pela mão. Como areia fina na praia. Um sentimento angustiante. Um sonho em que a gente grita, grita e ninguém nos escuta.
Esse dia chegaria. Chegou.
Precisamos confiar que, até aqui, acertamos mais do que erramos. E talvez seja este o ponto central da minha angústia. Quem pode garantir que foi o suficiente? O que nos assegura que ele entendeu toda a ladainha que falamos nestes anos todos?
“Filho é feito para voar”. “Criamos os filhos para o mundo”. Dizem. Odeio cada uma destes clichês. Porque são absolutamente verdadeiros. E estou assustado com esse voo sem poder ser o paraquedas do meu filho. Agarrado às suas costas.
É impossível olhar para esse cara mais alto do que eu e não me assustar com o que ele já pode alcançar por conta própria. Sem um “pezinho” meu.
Provavelmente é isso que vem causando terremoto de 7 pontos na escala Richter no meu coração apertado me fazendo acordar angustiado muitas manhãs seguidas.
E ao mesmo tempo (juro, me sinto um bipolar clássico) brota um orgulho imenso que apazigua esse abalo sísmico, porque o que sinto à flor da pele me mostra que meu bebê agora gigante tem um bom coração. Reconheço nele as possibilidades de saber escolher bons caminhos.
Falando assim parece que um portal se fechou e eles saem da nossa vida num estalar de dedos. Não é isso. Mas os dezessete e o último ano do Ensino Médio trazem uma nova perspectiva. E se até o momento as oscilações típicas não me desconcertavam, agora me sinto sem chão.
Por isso retomo a importância da presença. Porque você estará aqui, mas ele nem tanto. Então, de novo, vale o que construímos até este momento. Dia desses li uma frase. Quase infartei. Escuta: “quando seus filhos tiverem 18 anos, já terão passado 93% do tempo que irão passar com você”. Ou seja: estou aqui rezando para que a margem de erro seja imensa!
Na dúvida, só peço que os próximos 7% sejam ainda mais incríveis. Que nossos momentos demorem sempre um tiquinho mais. Que a gente ainda viaje juntos. Prometemos conhecer a Austrália, a Grécia e Dubai. Juntos, não esquece. Aguento qualquer coisa, menos rir sozinho das minhas piadas sem graça, guri. Ainda não estou pronto para isso. Fica mais um pouquinho?
Texto: @pai_mala