Não acredito neste título. Apenas um salva-vidas em beira de praia salva o outro. E mesmo assim, só quando o “afogando” quer se salvar também. Só acontecerá um resgate bem sucedido se o salvado parar de se debater, aumentando as próprias chances.
O exercício é simples. Tire esta pessoa do mar. Coloque um ser humano se debatendo em qualquer outra área da vida e tente salvá-lo. Faça seus maiores esforços. Abra mão de você em nome da salvação alheia. Priorize sua necessidade de “consertar” o outro. Vai com tudo!
E quem se afogará será você.
Ajudar e apoiar é o inverso de salvar. Os dicionários não deixam claro, mas a vida sim.
Absolutamente ninguém é salvo. Não sem se salvar primeiro. Se eu não decido por essa mudança em mim mesmo, ninguém irá decidir por mim. Essa é a lógica da coisa toda, que os que se afogam muitas vezes querem negar. E você, que também precisa de uma tábua de salvação, vê na dor do outro a cura para a sua própria cicatriz.
Não é assim que funciona.
Salve-se quem puder deixa de ser uma frase aterrorizante e egoista para fazer todo o sentido. Quem não puder, deve procurar ajuda. Mas nunca alimentar a esperança de que o outro vá preencher um vazio que é só nosso.
Um casamento, uma amizade intensa, um amante gentil, nada disso preenche lacunas, apenas torna nossos dias melhores. O verdadeiro salva-vidas de cada um está em nós. E este é o grande desafio: parar de se debater em meio a ondas e ao repuxo da própria vida para conseguir escutar a dolorosa liberdade que o autoconhecimento oferece.
Não, não é fácil. Muito menos simples. Mas prefiro a dor do percurso do que passar uma vida sem fôlego em meio a uma tormenta autoimposta.