Admito, fui um baixinho tardio da Xuxa. Tenho foto com ela, ainda sei de cor a letra de “Lua de Cristal”, e, ontem, me comovi com a entrevista dela ao Luciano Huck.
Não assisti a toda, mas me fixei na parte em que fala do “seu Meneghel”, que era como todos, inclusive sua mãe, chamavam o pai da Xuxa.
Exemplo emérito do modelo paterno vigente à época, abraçava apenas no Natal. Desavisada, Maria da Graça tentou abraçar seu Meneghel num dia que não o de Natal. Seu Meneghel recuou e perguntou o que ela estava querendo, queria saber o que havia por trás daquele gesto. Era amor mesmo, seu Meneghel.
Não esteve presente em nenhum momento importante da vida de seus filhos, o seu Meneghel. Formaturas, Dia dos Pais, aniversários, nunca se viu o seu Meneghel.
Silêncio em casa porque seu Meneghel estava descansando para voltar ao trabalho. Coisa de fã, não repare, fico pensando se alguma vez na vida seu Meneghel assistiu ao Xou da Xuxa.
Com a clareza que só a maturidade traz, Xuxa fez a comparação que me importa falar aqui: sua mãe defendia seu Meneghel dizendo “ele não recebeu (carinho, afeto, amor), então ele não sabe dar.” Xuxa arremata: “minha mãe também não recebeu e ela SÓ sabia dar”.
Tudo está resumido nesta simples e verdadeira fala da Rainha dos Baixinhos. Nosso passado não precisa massacrar nosso futuro.
A paternidade que você exerce hoje não precisa repetir a falta de afeto e de presença do passado.
Seu Meneghel, sua filha aprendeu e até cantou: “Tudo que eu fizer
Eu vou tentar melhor do que já fiz
Esteja o meu destino onde estiver
Eu vou buscar a sorte e ser feliz”