Desculpa, cansei.

Queria trazer um texto cheio de esperança, mas a verdade é que entrego apenas aquilo que tenho aqui dentro de mim. E hoje fui olhar no estoque, e a esperança está em falta. Já encomendei um novo lote, deve chegar antes das próximas vacinas, mas por enquanto queria um abraço bem apertado para me garantir forças para ver a fila formada na calçada do Cartório para registrar os óbitos de uma noite sem desabar.

Cansei.

Porque estamos com saúde não deveríamos estar cansados. Porque ninguém tão próximo morreu deveríamos estar felizes. Mas não tem como, minha gente. Estou angustiado. Acordo tenso. Ontem atravessamos a rua para não passar por uma família inteira que vinha na nossa direção sem máscaras.

Queria ter muito a falar para fazer deste, um texto inesquecível. Mas a verdade é que me faltam palavras porque todas as que já usei não tocaram o coração de quem, ontem, fez buzinaço na frente de um hospital aqui em Porto Alegre. Buzinaço! Contra o fechamento do comércio! Contra a vacina! Contra o STF! A favor da intervenção militar! Na frente de um hospital com UTI lotada! Buzinaço!

Cansei.

Cansei da cloroquina, do “vão chorar até quando”, do desrespeito, do descaso, da incompetência, da falta de humanidade.

Cansei, mas sigo em casa. Sigo de máscara. Sigo aguardando a esperança voltar.

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