Hoje, eu nem saberia o que dizer a minha mãe

Minha mãe nasceu na Itália em plena II Guerra Mundial. Já adulta, cada vez que um avião passava um pouco mais baixo do que o normal, o som dos motores potentes fazia brotar um pânico naquela mulher que passou os primeiros anos da sua vida escutando alarmes antibombas enquanto mamava ou fugindo de explosões causadas por voos rasantes durante suas primeiras tentativas de caminhar em direção ao bunker da casa que dividia com vô, vó, tios e tias.

É um pouco como aquela menininha de cabelos loiros e olhar assustado que me sinto hoje com o anúncio da bandeira preta em todo o estado do Rio Grande do Sul. Tropicando entre bombas que explodem na minha cara.

Queria um bunker grande o suficiente para esconder todos que gosto até isso tudo acabar.

Mais que isso, meu desejo é que houvesse um armistício e que o vírus cessasse. Porque não há vitórias em guerras.

E caso o vírus não assinasse o acordo de cesar mortes, que as pessoas entendessem o impacto de suas ações. Por maior que seja o bunker de cada um, as paredes são finas demais para proteger a todos.

A guerra passou a se chamar “Guerra do não aguento mais e precisei aglomerar”. E hoje há mais de 100 pessoas esperando um leito em UTI apenas na minha cidade.

Muitas vezes abracei minha mãe petrificada em meio ao corredor, com suas mãos no peito, num gesto usado para conter sua angústia, enquanto a convencia de que aquele barulho todo vinha de um voo comercial que arremetera. Sem bombas a bordo.

Hoje, eu nem saberia o que dizer a minha mãe.

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