Senta aqui, pai!

Só muda o endereço mesmo. Teu filho não precisa de um tablet com milhões de aplicativos, não precisa de um videogame de última geração, não precisa de viagem para Orlando aos três meses de idade.

O que teu filho precisa é sentar no chão contigo ao menos uma vez por dia. Todos os dias.

Ele precisa que tu te reconectes ao coraçãozinho dele. Diariamente. Para sempre.

Ele precisa de olho no olho e sentir tua pele nas coisas que só tu, e mais ninguém, pode fazer por ele, com ele.

Teu filho precisa entender, nessa troca de olhares, o tanto de confiança que ele pode ter em ti.

Não adianta repetir que amamos eles se não demonstramos isso em atitudes como essa de sentar uma vez ao dia no chão da sala, no chão do quarto, para brincar com seus brinquedos ou com as caixas vazias de sapato.

Pernas de índio, risadas que tomam conta dos nossos corações para fantasiarmos na mesma sintonia porque o amor é a nossa estação favorita. Estou aqui, filho. Todo teu. Sem distrações, como tu me pede tanto.

Nenhuma imagem, para mim, é mais cruel do que a de um pai hipnotizado pela tela do celular dizendo “Já vou, filho”. E nunca ir.

Não te engana. Esse tempo no chão da sala é muito para nós também. É quando os problemas lá de fora ganham a dimensão que devem ter. As angústias vão cedendo. A respiração, retomando seu ritmo, sem nos sufocar. Brincar com um filho tem o efeito de uma caixa de comprimidos para pressão alta. Não há ansiolítico mais potente. E natural. Ah, o amor, conexão verdadeira. Sempre ele.

A paternidade só faz sentido quando a gente consegue se perder (ou seria se achar?) dentro de uma embalagem de sapato vazia transformada em rampa de disparar carrinhos. Somos os grandes arquitetos das brincadeiras construindo pontes eternas.

Ele pode até dizer que quer o videogame, mas na verdade ele quer jogar contigo. Pode pedir Netflix, mas o que ele quer mesmo é ficar no sofá abraçadinho em ti. Sim, ele pede o tablet mais bacana do mercado, mas a ideia é usar o teu dedo para chamar o aplicativo que ele quer te mostrar.

Só muda o endereço, portanto, seja presente na vida do teu filho enquanto teu filho ainda é presente na tua.

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