Essa noite fiz diferente. Li mais um capítulo para o Gianluca dormir e quando ele pegou serenamente no sono, ao invés de ir logo para minha cama continuei no quarto dele. Um bom tempo, o tempo de me acalmar de um dia agitado, tenso e cansativo.
O quarto, até então ocupado por minha voz, agora estava definitivamente tomado pelo silêncio e pela paz de um filho dormindo em sua cama, são e salvo, tranquilo e calmo. Essa onda zen agora ocupa todo o ambiente e vai aos poucos preenchendo meu coração de serenidade.
Sentado na ponta da cama, relaxo e aproveito esse templo de tranquilidade e segurança para refletir sobre o caminho que nos trouxe até aqui. Penso que fiz alguém dormir e que isso é a maior prova de confiança que há. Meu filho confia plenamente na minha bondade e se adormenta com o som da minha voz, confia na minha entonação.
Nesses últimos dias, tenho pensado numa coisa só: a confiança que há (ou deveria haver) entre um pai e um filho.
Nos meus 10 anos de paternidade, conclui que temos um poder imensurável diante de um filho: temos o poder de destruí-lo ou o poder de torná-lo o ser humano mais completo do mundo. A escolha é nossa, é sua. E isto é assustador.
Quem nunca se irritou com um filho e sentiu, bem lá no fundo, a vontade de proferir palavras ruins para ele? Pois saibam que muitos pais vomitam maldades e crueldades diariamente em seus filhos. Entendam, pais: o coração de nossos filhos é uma porta escancarada, exposta, pronta para receber nosso melhor e, ao contrário, recebe destes “homens” o pior veneno que há. O elixir que corrói a criança, seca sua alma, enrijece um futuro adulto. Estes “pais” não entenderam o seu papel e muito menos sabem usufruir do seu poder. Imbecis.
Por outro lado, amém, há os homens que compreendem o coração de seus filhos, sensíveis como carne viva, sedentos pelo nosso amor para florescerem, e alimentam estes corações escancarados e pulsantes com o maior dos gestos, a maior das bençãos: o afeto, o amor.
Estes homens, que entendem seu poder e aproveitam ao extremo todas as veias a flor da pele deste coraçãozinho para preenchê-las com o fermento da dignidade, para regá-las com dedicação e respeito, sabem transformar esse terreno fértil numa floresta robusta e delicada ao mesmo tempo. De troncos grossos e flores suaves.
Estes bons homens percebem seus papéis de forma clara e reveladora. Descobrem a seiva de um sentimento cristalino que a cada dia faz maior esses corações inocentes.
Há, nesta confiança infantil, a pureza da admiração extrema e o encantamento do exemplo a ser seguido. É assim que meus filhos me enxergam, ainda sou o Super-Homem para o pequeno e ganho pontos diários com o mais velho ao caçarmos Pokémons. É nessa inocência infantil que está a porta de entrada para preencher cada célula desse ser humaninho com bons sentimentos.
Este poder é nosso.
Corações infantis podem se transformar em gigantes cicatrizes ou em floridos jardins, cabe a nós optarmos pelo caminho do amor incondicional.
Estou aqui num universo paralelo onde existe apenas paz, harmonia e serenidade, estou no mundo do sono infantil, onde o que já era puro fica ainda mais lindo. E aqui, olhando esse anjo dormindo, entendi a origem de todo esse poder: nossos filhos nos entregam inocentemente este poder. Emana de nossas crianças e de suas bondades extremas, a essência do nosso poder.
Estou aqui pensando que, se recebemos esse poder, se este poder é que faz bem a essas crianças e se é este poder que nos alimenta a alma, estou aqui pensando que tem que ser muito louco para não aproveitar cada momento deste lindo, mágico e tocante poder que é a paternidade.
Feliz dia dos pais!
Amei com força, Alberto, o teu texto!!! Compartilhado de imediato no FB, pois deveria fazer parte do Estatuto da Criança e do Adolescente!!! Penso exatamente igual!!! Parabéns!!! Beijos na Lu e nos guris!!
Querida Aline, quanto carinho! Muito obrigado! Beijo em todos ai também!
Bela reflexão. Oxalá todos os pais percebessem isso!
Sim Rosana, na torcida para isso também!
Que lindo Alberto!
Quando vejo teus filhos,fico comovida,pois automáticamente lembro de vocês pequenos.lembro da Lorena e do Henri
com aquelas carinhas lindas!lembro da mãe e do pai de vocês também lendo para os filhos que hoje são também pais e mãe.
Com muito carinho
Um grande beijo.
Querida Sonia, muito obrigado! Imagina daqui uns anos meus dois malinhas sendo pais?! Grande beijo!
Perfeito. Linda e muito sensível sua reflexão sobre o importantíssimo papel do pai na vida dos filhos. Nossas crianças estão carentes de pais assim…De verdade! Parabéns!
Cleandra, muito obrigado pelo carinho! Que bom que cada vez mais pais aderem à paternidade ativa, mas lamentavelmente, ainda há um número expressivo que perde essa oportunidade fenomenal! Seja sempre bem-vinda ao Pai Mala!