Como em todas as manhãs, após um pouco de reclamação por ter de despertar e antes dele pegar o elevador para ir à escola, nos abraçamos na despedida. Porque eu gosto de rituais e não imagino minhas manhãs sem esse abraço apertado que nos libera para um dia de realizações em segurança. Parece que se eu não o abraçar, correrá riscos nos percursos daquele dia.
Ilusão de pai. A verdade é que a segurança só está garantida dentro do nosso abraço. O tempo só interrompe sua contagem nos instantes em que cerro os olhos e mentalizo boas coisas para meu filho. Depois, a vida se encarrega.
Mas hoje nosso abraço teve um sabor inédito. Levei um susto e a surpresa da novidade até me fez esquecer de mentalizar energias positivas. Rimos e o apertei mais do que de costume. Como quem diz: não escapa. Ele riu e pegou o elevador.
Fiquei ali, parado, de pijama e com cara de tacho.
Não vou mentir, sempre gostei do título de mais alto da família. Em meio a tantas imperfeições e a falta de uma mão e de um antebraço, o recorde de altura parecia um troféu.
Desde que parei de crescer, lá pela metade dos anos 1990, escuto e repito que sou o mais alto da família. Um metro e oitenta e nove centímetros. Passei meu pai e seus 1,85m e não tinha primo, tio ou tia que chegasse perto de enxergar as coisas da altura que vejo.
Com o tempo, isso perde relevância. A altura vai para a gaveta das lembranças que não importam ou diminui com o impacto cotidiano da vida na nossa coluna.
Mas todas essas lembranças românticas sobre minha altura voltaram aflitas quando, no abraço de hoje, precisei ajustar meu corpo para cima para dar conta de abraçar meu filho.
Era isso ou dar com o queixo no ombro dele.
Enquanto ele caminha para a Escola, voltei ao meu café para digerir isso tudo. Provavelmente chegamos na fase em que o momento de ele voar está cada vez mais próximo. E não poque está da sua altura ou até mais alto do que você, mas porque faz cada vez mais sentido você caber no abraço dele e não apenas ele no seu.
Assim é a vida, e vou lutar até o fim para sempre o acolher no meu abraço. Mas, hoje, é o dia em que começo a aceitar a delícia de caber inteiro no abraço do meu filho.
Texto: @pai_mala