Eu sei, também já estou um pouco cansado de ter opinião formada sobre tudo cinco minutos após algo acontecer.
Porém, a repercussão do técnico da Seleção brasileira indo ao vestiário enquanto sua equipe vagava desorientada e desamparada pelo campo, me fez pensar.
Certamente não sei do trabalho feito nos últimos anos por ele. Desconheço o nível de intimidade e afinidade entre os jogadores e Tite.
Mesmo assim, arrisco este texto.
Tite representa, naquele momento, a autoridade no grupo. É a quem recorrem para dúvidas, orientações e aconselhamentos. A mim, lembra muito a figura paterna.
Como pai, mostra os caminhos, aponta os valores da família (a Seleção) e guia a todos de forma afetiva e assertiva rumo à vitória.
Como em toda família, nem sempre os planos têm sucesso. Quem nunca idealizou uma viagem dos sonhos que acabou se tornando um pesadelo na terceira curva da estrada?
Ontem, a família de Tite sofreu um duro golpe. Uma fratura exposta. Dor e sangue.
E Tite deu um tapinha no ombro de três jogadores e se retirou.
Expôs seus filhos ao abandono paterno em meio à dor que corroía suas chuteiras e corações.
Cara enfiada na grama. Incredulidade no olhar para o nada, choro escondido na camisa. e nenhum abraço de pai para acolher a dor que queimava.
Independe aqui, de torcer ou não por este grupo.
Peço apenas que pensemos no pai que dá as costas.
No filho que precisa recolher seus pedaços sozinho.
Não é a primeira derrota, eu sei. Mas outros pais desses times se recusaram a sair de campo. Porque um pai acolhe, acarinha, ajuda a enxugar as lágrimas.
Um pai dá colo (até para marmanjos) e os encaminha ao vestiário e dali para a vida.
Um pai de tapinha nas costas não serve para essa função.
Pai faz dancinha de pombo na alegria e abraça seu filho na derrota.
O afeto de um pai é elemento tático de primeira grandeza. Talvez não garanta a taça hoje, mas certamente transforma um filho em campeão.
Texto: @pai_mala