A emoção é meu ingrediente principal. Não vivo sem, assim como muitos de vocês não vivem sem um docinho ou sem um pão bem quentinho recém saído do forno.
Assim é a minha paternidade. Toda apoiada na emoção. Doce como quindim. Ao menos deveria ser sempre assim. Mas como sou humano, erro nas doses dessa receita e às vezes troco o açúcar pelo sal e desando a química que vinha dando tão certo.
Dizem que nosso paladar não está naturalmente acostumado com sabores ácidos ou azedos. Vez ou outra, minha paternidade é amarga. Também não me acostumo. Me revolta o estômago. Grito com meus amores e minha alma desanda feito maionese.
Do alto dos meus 1.89m, sentem-se ameaçados os olhinhos assustados dos meus amores. E me dá náuseas.
Minha paternidade é como a tua. Imperfeita.
Mas como me nutro de emoção e afeto, me desarmo o mais rápido possível para eu mesmo parar de sangrar.
Me cobro e me condeno duramente quando erro a receita. A dosagem dos ingredientes e o modo de fazer fazem toda a diferença. Afeto, presença e limites são fundamentais. Ainda mais quando misturamos tudo com a leveza que nossos rebentos, delicadas claras em neve, exigem.
Pouco falamos dos momentos de bolo abatumado. Mas eles existem em qualquer família. Sabe o que faz a diferença? Aprender com essas fornadas mal sucedidas. E voltar melhor para nossos filhos. Ninguém nasce pai. Mas o amor ensina a ser. E, claro, os erros também. Temos de estar sempre abertos ao aprendizado.
Limitar os momentos amargos é necessário para seguir o caminho em que tanto acredito.
Errar é humano, certo? Repetir os equívocos, porém, não é coisa de pai. Não temos o direito de repetir os mesmos erros. Temos, sim, a obrigação de repensar nossa conduta sempre que a receita falhar.
Nossos filhos não têm a opção de buscar outro restaurante. Afeto, exemplo e educação se servem na nossa casa. Então, façamos sempre o melhor com nossos ingredientes, assim teremos uma paternidade leve e amorosa em nossos lares, tal qual cheirinho de bolo assando no forno se misturando ao de café recém passado.
Foto: Gissele Sauer