Maneta

Já te contei qual era meu apelido no final do Ensino Fundamental? Era “Maneta”. Na verdade, chamava “primeiro grau”, coisa antiga do tempo em que eu não sabia que podia bradar contra esse apelido absurdo.

Não sabia, e calava com um sorrisão de orelha a orelha repetindo que não tinha problema. Podia me chamar assim. “Não me importo”, repetia. Para os outros, meu sorriso tinha o sabor da pipoca doce que o seu Joca vendia na frente da escola. Para mim, o apelido tinha o gosto amargo da pipoca que queimava e ia para o lixo, porque doia. Feria.

Os colegas que usavam o apelido também não sabiam que eu tinha o direito de me magoar e de ser contra. Não, não era bullying. Era comum mesmo. Fazia-se o tempo todo com a diferença. Ela te marcava. E virava piada.

Interessante pensar que o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência surgiu apenas alguns anos após meu apelido ser esquecido na troca de escola e na minha chegada ao segundo grau.

A conscientização era novidade para a turma do Maneta, para o bairro, a cidade, para o planeta do Maneta.

Evoluímos, eu sei. Mas o capacitismo, nome bonito dado ao fato de muita gente ainda sentir vontade de me chamar de Maneta, persiste e hoje, no Dia Internacional da gente, eu queria apenas que você enxergasse além. Além de si mesmo. Abrisse seu coração para perceber tudo aquilo que nos une. Respeite o que nos difere, mas foque na imensidão que nos faz iguais.

Beto Bigatti
@pai_mala

Deixe uma resposta