A culpa é da mãe

Já dizia Freud: a culpa é da mãe. Ok, ele pode não ter dito exatamente dessa forma, mas você entendeu. Um adulto mimado, um chefe assediador, uma pessoa sem relacionamentos saudáveis ou até alguém inseguro demais: culpa da mãe que um dia exagerou para mais ou para menos.

Desde sempre essa ladainha da culpa recai sobre as mulheres. Até mesmo quando o pai tem uma atuação pífia, a culpa, veja só, é da mãe do pai, que fez um homem assim.

É minha obrigação fazer com que a gente pense sobre uma área nebulosa deste senso comum que tenta esconder outra verdade, menos engraçadinha.

Não precisaríamos de mais comprovações, mas ao assistir a Ted Lasso é muito fácil perceber o quanto essa culpa pode ser do pai. Do homem ausente, do cara agressivo, da figura autoritária. Daquele padrão de paternidade lá de trás cuja luz do farol ainda reflete em tantos espelhos retrovisores de famílias atuais, ofuscando o que poderia ser uma viagem muito mais divertida para todos.

Desliguei a televisão após o episódio de ontem e não consegui me levantar do sofá até as lágrimas secarem e digerir tudo o que havia assistido: jovens adultos feridos pelas críticas constantes de seus pais, marcados pelas descrença escancarada do homem que deveria amá-los ou simplesmente acuados pela sombra da completa ausência paterna.

A culpa é de quem, afinal?

Alguns ainda ousarão dizer: da mulher que escolheu este pai para seus filhos.

Pois bem, a estes tenho algo a dizer: olhe para sua história. Tente entender de onde vem esta visão machista e tão pouco generosa. Pare de achar culpados e veja do que você é capaz por conta própria. Viver escondido nas névoas da culpa alheia pode facilitar sua vida, mas com certeza está prejudicando a de alguém. (Inclusive a sua)

Antes de culpar uma mãe por qualquer coisa que você julgue um erro, não esqueça jamais que um filho não se faz sozinho. Mas, tantas vezes, se cria em solidão.

Sim, todos nós já passamos por esta fase de culpar o mundo. Mas ei, chega uma hora que não temos como seguir nessa toada. É nossa vez de entregar o que tivermos de melhor e não de despejar nossas frustrações no coração dos nossos filhos.

Agora, os pais somos nós.

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