Precisamos nos entender. Nessas primeiras linhas. Ou a gente fala a mesma língua ou não tem porque seguirmos. Não quero te fazer perder tempo. Menos ainda perder o meu.
Não temos controle sobre nada na vida. Repete comigo. Não temos controle sobre nada na vida.
Podemos seguir?
Ótimo, que bom que estamos aqui. Descobrir essa dura verdade foi um impacto profundo na minha vida. Como iceberg que naufraga um Titanic, afundou várias pretensões que habitavam em mim. E, principalmente, me libertou.
A falsa ideia de controle tem tudo a ver com nossa mania de grandeza, sabia? Claro, somos tão incríveis e poderosos, como pode o universo não se curvar à nossa vontade? Eu quero, determino, controlo. E assim seguimos sofrendo por boa parte de nossas vidas porque, vejam só, raríssimas vezes a vida executa nosso planejamento tal qual definimos em nosso plano infantil e infalível.
Foi assim meu primeiro mês como pai. Seguia a mãe a cada passo que ela dava com o “meu” filho. Era a vez dela trocar a fralda, lá estava eu controlando. Amor, tem certeza de que já mamou na teta esquerda? Um inferno. Para ela, mas para mim também.
A vida se ocupou de me colocar no meu devido lugar: precisaria viajar para outra cidade, a trabalho, por três dias. Na manhã em que embarcaria para meu primeiro afastamento de casa pós-nascimento, tive o que os médicos chamam de faniquito. Bom, se chamam mesmo não sei, mas foi isso o que eu tive. Minha primeira crise de ansiedade me derrubou fisicamente e trouxe questionamentos super válidos, por exemplo: como viverão sem mim? Como farão para se acordar na mamada? Deus do céu, quem vai lembrar da teta esquerda?
Bom, Ser iluminado e dominador da terra, do céu e dos mares, não será o senhor, ó Ser supremo.
E assim começou meu longo aprendizado sobre o controle. Ou melhor, sobre a falta dele.
Idas e vindas à terapia e já era óbvio que por trás de muitas lágrimas, estava a tentativa de controlar o que não tem controle. Nem em mim, e muito menos, mas muito menos mesmo, no outro.
Já que seguiu até aqui, presta bem atenção: a loucurinha do outro apenas a ele pertence. Já temos as nossas, faz nem bem querer pirações alheias.
Entender que as loucuras de outrem não nos dizem respeito é como uma pós-graduação em controle. Parabéns, você acaba de concluir seu Mestrado em “Domino nada mesmo, mas ainda me engano”.
O Doutorado custa um tantinho mais a chegar. Mas acredita em mim, persegue ele como faminto sonha com banquete de faraós.
Volta e meia, ainda me pego querendo decidir o que o outro come, bebe, pensa ou sente. Faz parte. “Um dia de cada vez.” E assim vamos seguindo sem uma gota de falsa ilusão na boca.
Evidente que tamanho esforço traz uma recompensa. E vos digo, a melhor delas. Embalada em um belo pacote dourado com fartos laços de cetim, vem ela, sedutora e serena, a liberdade. Entregue, agora sim, de bandeja para a pessoa que entendeu: não temos controle sobre nada na vida. Repete comigo. Não temos controle sobre nada na vida.
Liberdade pós filho é um pensamento distante. Ainda tem aquela frase
“Aproveite agora essa fase passa rápido”