Para quem não está familiarizado, “espaço kids” é um local que existe em restaurantes, hotéis (recreação), academias, entre outros. São áreas cheias de brinquedos, computadores com jogos, decoração transada e foco no lúdico destinadas a dar uma folga para os pais curtirem uma parte do jantar a dois, momentos da hospedagem ou a malhação sem a presença dos amados filhotes.
Quem conhece esses espaços, sabe que cada vez mais as famílias despejam suas crianças nestes locais. Chegam no restaurante e vão direto pro espaço kids, e alguns, desconfio, só voltam a ver seus filhos após pagar a conta e chamar o manobrista. Para esses, já lancei a ideia (absurda eu sei, é brincadeira) do Motel com espaço kids (se a ideia vingar, quero minha porcentagem nos lucros).
Veja bem: eu adoro um espaço kids. Às vezes é a única forma de eu conseguir conversar com a minha esposa sobre a mãe dela e outros assuntos espinhosos.
Mas tudo tem um limite.
A geração que estamos criando já não é fácil, todos sabem e não vou me aprofundar hoje neste assunto, mas além de criar um povinho autocentrado e com poucos limites, muitos de nós vão deixar de herança uma geração que também não sabe sentar à mesa e conversar, contar como foi o seu dia, o que aconteceu de bacana na escola, ouvir o projeto legal que a mamãe está desenvolvendo ou outras banalidades do dia a dia, que, no fim das contas, é o que mantém a família viva.
Ou seja, as refeições estão perdendo a força e o peso que devem ter como fator de união das famílias, isso sem falar na falha do desenvolvimento do paladar das nossas crianças, mas isso é papo para outra postagem (Ou você não conhece nenhuma criança que só come arroz e batata frita?).
Portanto, usem o espaço kids numa boa –nós usamos, mas valorizem a presença das crianças na mesa também. Acredito realmente que fará diferença na educação dos meus guris.
Enfim, o peste
Qualquer um pode identificar essa criaturinha em qualquer área de recreação, pracinha, playground ou piscina de clube. Mas é claro que eu, sendo um pai mala, identifico com muito mais facilidade o peste do espaço kids.
Quando nossos meninos ficam nesses espaços, nos revezamos e de vez em quando fazemos uma visitinha pra ver como estão se comportando e se a paz ainda reina entre as crianças de bem. Nesses momentos, é com facilidade que identifico o peste.
Ah, pai mala, mas quem é essa criança?
É aquela que rouba os brinquedos dos outros, é agressiva, impositiva e eventualmente bate quando não está sendo observada. É aquela que não divide o computador. Empurra os menores, e ainda se faz de vítima. É aquela que afronta o “tio da recreação” sem pudor, porque meu pai, minha mãe “tá pagando”.
É a criança largada na recreação e ignorada pelos pais. É a criança que não tem e implora por limites. Que atrapalha a brincadeira de todas as outras pedindo pelamordedeus pai, mãe olhem para mim, me xinguem, mas me deem atenção. Me deem amor. Me eduquem. Legos já tenho de sobra.
O peste do kids é, na essência, a vítima.
No clube vejo repetidas vezes a mesma cena: crianças que se aproximam de mim e de outros pais que estão brincando na piscina com seus filhos. Na verdade, se “grudam” na gente por pura carência. Precisam, apenas, de um pai brincando. Junto.
Será que é pedir muito?
Foi-se o tempo em que a expressão “não basta ser pai, tem que participar” fazia tanto sentido.
Meu amigo, acorda: não basta mais participar (eventualmente, quando convém ou está afim), tem é que ser pai. Pai inteiro, presente, afetivo, ativo, parceiro. Tem que dar bronca e saber dar gargalhada. Tem que trocar fralda e ajudar a costurar o vestida da boneca. Tem que levar gol e dar risada.
É esse pai que nossos filhos merecem.
E não me venha com “eu ajudo, até troco fralda…”.
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