Às vezes penso em parar de falar sobre paternidade porque desconfio que já disse tudo, que já me fiz escutar o suficiente, e que agora a mudança de mentalidade é com a pessoa que me escutou e ponto final. Uma sensação meio vazia de dever cumprido sem saber se atingi a meta.
De tanto falar no poder transformador da paternidade, nos afetos que ela possibilita, chega um momento em que me pergunto se você já não cansou desta pauta e tudo bem, não é com você, é comigo.
E então, contrariando minha egotrip, fico estarrecido porque os últimos cinco filmes a que assisti tinham histórias de pais ausentes. Em dois deles, havia mais de um personagem ressentido pela falta paterna. As séries mais vistas e badaladas da atualidade são outro exemplo: a TOP 1 tem um pai que ajuda o mundo, mas não se dedica minimamente à própria filha (Round 6), a TOP 2, um marido/pai abusivo que, como tantos homens, geram uma situação tão precária que a mulher se vê compelida à fugir no meio da noite, filha a tiracolo, sem ao menos entender a dimensão do mal que este homem/pai está causando (Maid).
Desse jeito não tem como pensar em parar ou ter a pretensão de já ter dito tudo.
Enquanto ser pai de filho que já existe ainda for uma escolha para os homens, sinto que ainda não cumpri nada e precisamos seguir.
Percorrer a meta de converter ao óbvio: um filho não pede para nascer e ele não é criado a partir de uma única pessoa.
Eu sei, os exemplos nefastos estão por todos os lados, mas a bolha da paternidade ativa tem se ampliado, vem alcançando mais e mais homens que entendem a não obrigatoriedade de repetir enredos falhos de paternar.
Ainda há oceanos inteiros a navegar. Ilhas machistas a ocupar, territórios medievais a transformar. Mas você entende que sozinho não tiramos nem mesmo a âncora do cais? Vamos juntos fazer um mundo melhor para pais e filhos. Cada um no seu mar, gota após gota, até ninguém mais derramar lágrima alguma por um homem que decidiu fugir porque ninguém mais fugirá.