Cuidado, Doutora!

Éramos inocentes. Já estávamos com 41 semanas, ainda íamos consultar uma amiga numeróloga sobre o melhor dia para o nascimento do nosso primeiro bebê. A Lu estava linda. Sua pele brilhava. Olhos cor do mar ainda mais ofuscantes. Caminhava feito uma pata, mas não havia mulher mais linda no mundo.

Chegamos na obstetra (a melhor de todas, consultas de 1 hora ou mais, as conversas mais divertidas) certos de que era mais uma consulta de rotina.

Passados 15 minutos, ela decreta: estamos entrando na 42° semana. É hoje. Sim, entendi. Mas e o parto, quando será? Ainda não te dissemos, vamos escolher o dia com uma amiga numeróloga…

Fomos interrompidos pela gargalhada da médica. Vão para casa, tomem um banho e nos encontramos no Hospital.

Como assim? Apesar da Lu não ter mais posição para dormir (nem para sentar, muito menos para viver), e mesmo que a médica estivesse decidida, EU não sei se estou pronto! Ninguém vai me consultar?

Seria hoje. 13 de outubro de 2005. Mas “13”? E não era dia de azar?

Definitivamente não. Nos demos conta de que o dia 13 estava em vários momentos marcantes da nossa história: casamos no dia 13 e, ainda não sabíamos, nosso segundo filho nasceria em 2013.

Quando cheguei na sala de parto, a decisão já estava tomada. Sem absolutamente nada de dilatação ou contrações, seria cesariana. 

A Lu já estava pronta. Eu, medroso, quase pedi um pouco daquela anestesia. Por dádiva, não recebi e pude estar 100% consciente quando vi pela primeira vez o rosto do Gianluca, a pessoa mais igual a mim, sem ser eu. Não sei você, mas eu lembro perfeitamente deste momento. O exato instante em que vi, fora da barriga da mãe, pra valer mesmo, meu filho.

Já o chamava de filho há meses. Mas quando ele está ali, respirando o mesmo ar que tu, quando a pele dele toca na tua, não há explicação razoável em toda a literatura e não serei eu, aprendiz de escritor, a descrever com precisão este momento. Mas quero dizer que foi ali que mais SENTI na vida inteira. 

Tanto sentimento que, quando a pediatra foi levá-lo para a sala ao lado para os exames de rotina, disparei um “Cuidado, Doutora!” arrancando uma risada deliciosa da melhor pediatra do mundo, que entendeu que ali estava um pai inocente mas cheio de amor. Não te preocupa, não vou deixar cair, me garantiu. Ufa!

Fui junto para ter certeza.

Éramos país há poucas horas mas me sentia maior, mais maduro e feliz como nunca.

Tomei a frente da família, e passei a proteger minha esposa e meu filhote. Orientava as visitas, expulsava avós do quarto na hora das mamadas. Tudo para proporcionar a paz que eles precisavam.

De lá para cá, perdemos um pouco da inocência, mas nunca a pureza. Só ela garante vivermos nossos amores verdadeiros.

Repeti esse enredo uma única vez. Em fevereiro de 2013. Mesma pediatra, dessa vez não pedi que cuidasse do Stefano ao mudar de sala, acho que estava mais relaxado. 

Esses dois momentos mudaram minha vida para sempre. Optei ser pai. Melhor escolha da vida. E, desde então, tenho me dedicado para ser um bom pai. Consigo quase sempre. Quando erro, respiro fundo e parto para o próximo desafio.

Mas sempre que preciso, volto para o exato instante em que a médica ergueu meu filhote e o botou no peito da mãe. Nasciam ali 3 novas vidas. E cada vez que minha alma pede um respiro, lembro desse espetáculo. E flutuo.

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