Se você chegou neste texto esperando encontrar um emocionante ode à maternidade, bem, talvez tenha vindo ao lugar errado. Se está pronto para ler uma crítica às mulheres que optaram por não ter filhos, ok, este é o momento em que você deve pensar seriamente em parar de ler esse texto. Ou não.
Você também pode estar pensando que um homem não tem o direito de escrever sobre esse tema, mas está enganado. Você pode estar especulando que o marido de uma mulher com filhos não pode ser imbecil de tocar nesse assunto.
Calma, talvez você nem saiba ainda qual é o tema deste texto.
Tenho pena de toda mulher que não é mãe.
Explico.
Tenho e tive muitas colegas mulheres e muitas amigas mulheres. Cheguei a trabalhar num ambiente em que era o único homem rodeado por 12 mulheres.
Já convivi com mulheres de todos os tipos: casadas, solteiras, altas, gordas, lindas, feias, morenas, orientais, loiras, inteligentes, burras, chatas, bem humoradas e até rancorosas. Tudo isso em várias e, você sabe, às vezes, numa só.
Mulheres são especiais. Complexas e transparentes.
Algumas independentes, outras endividadas. Algumas passavam correndo chorando rumo ao banheiro e outras nunca se permitiram uma gota de alívio.
Umas me irritam, outras me fascinam.
Mas muitas dessas mulheres que permearam minha vida são cruéis. Ferem deliberadamente umas às outras quando o assunto é não ter filhos.
Não tem filhos né, por que será? Muito egoísta, não conseguiria ter filho. Muito estranho, ela pode ter, acho que passou da hora e agora não dá mais, coitada. Melhor assim, pobre criança. Seca!
Cruéis. As mulheres perdem uma grande oportunidade de não se sentirem ameaçadas por uma escolha diferente do senso comum. E, de não reagirem dessa forma, tão dura consigo mesmas e com suas amigas. Corporativismo zero.
Conviver com tantas mulheres diversas, me fez ver que muitas delas assumem a maternidade em função das outras e não de si próprias. E nós sabemos bem que essa é uma péssima forma de assumir um papel. Ao assumir esse personagem (e não um papel) vão secando aos poucos e engrenam em uma série sucessiva de escolhas vazias. Não estranhe o número crescente de mães deprimidas.
Eu amo minha mulher, e agradeço ela ter feito a escolha pela maternidade, mas nunca entenderia se ela julgasse outras mulheres que escolheram outro caminho.
Em tempos de empoderamentos e feminismo crescente, é triste ver a força do preconceito contra mulheres que optam em não serem mães. E mais perverso ainda que esse julgamento parta das próprias mulheres.
Galera, estamos nessa para sermos felizes. Mas a nossa felicidade é única. Cada um deve saber da sua. Antes de condenar sua amiga, pergunte-se se na verdade você não gostaria de ter feito o mesmo que ela fez.
Para amenizar essa crítica, reconheço que os homens também são julgados ao não terem filhos. Mas geralmente mantem-se o nível do “imaturo” e ponto. No máximo, um “focou na carreira” ou “só apareceram mulheres interesseiras” (e aí segue a crueldade com a mulher).
Somos, homens e mulheres, de todos os jeitos: casados, solteiros, altos, gordos, lindos, feios, morenos, orientais, loiros, inteligentes, burros, chatos, bem humorados e até rancorosos, mas basicamente: seres humanos, imperfeitos.
Meu caminho é o da felicidade, da busca por ela. E nessa busca, abandonar os julgamentos é fundamental. O preconceito, a crítica excessiva, o amargor e o ranço escondem toda a beleza que há por trás de uma mulher bem resolvida.
Mãe ou não, solteira ou não, todas deveriam ser livres. Livres para fazer suas escolhas e mais livres ainda para repensar, dia sim e dia também, as suas trilhas e o destino de cada um desses caminhos.
O ato de engravidar e de ser mãe – e todas as suas consequências – é ou deveria ser de escolha única e exclusiva da mulher, e este é um dos grandes poderes dela. Quando você julga outra mulher que optou por não ser mãe, está diminuindo o seu poder e o dela.
Há um universo de possibilidades para todos os tipos de mulheres. E quem somos nós para definir a maternidade como principal dom a ser exercido?
Mulheres menos duras julgam menos as escolhas alheias e as próprias. E são mais felizes.
Igualdade de gênero, direitos iguais, cada vez mais mulheres líderes. Tantas conquistas e parece que a mulher ainda não tem ingerência sobre essa parte de sua vida. É a coerência descendo a ladeira.
Acredito realmente que ser pai e ser mãe não é para todos e por isso mesmo, defendo o dever de toda mulher fazer a escolha justa, considerando o melhor para ela e seu filho ou “não-filho” no caso.
Aproveitem o Dia da Mulher e vejam se este texto faz sentido. Ou não. É apenas uma reflexão de um homem que gosta de mulheres felizes e bem resolvidas, e que, por isso mesmo, acha que pode escrever a respeito.
Feliz Dia da Mulher a todas vocês!
Isso é só o início…
Parto Normal x Cesárea;
Amamentação por tempo indeterminado por livre demanda x todas as outras possibilidades;
Cada fase da maternidade gera um “grenal” de situações… basicamente cada escolha (e as vezes nem foi escolha) é questionada e enfrenta preconceitos…
Tens razão Flávio, não está fácil… Nas duas vezes em que a Lu engravidou, optamos por ignorar a maior parte dos comentários… Só assim para sobreviver!
Esse texto tinha que ser escrito por um homem, pois, como vc disse, a maioria das mulheres que são mães não têm discernimento e julgam e criticam duramente. Eu sei, pq escolhi não ter filhos, mas nunca me deixei atingir pelo egoísmo dessas mulheres e ainda me permito mudar de opinião, se um dia pensar diferente.
Keilla, se todos pensassem igual…seria muito chato né! Obrigado por ler o Blog do Pai Mala, até o próximo!