Abraço amálgama

Dizem que as estações de trem na Europa se parecem. Não chega a ser exatamente assim. Lembro bem do teto baixo dessa. Do mezanino com algumas máquinas de venda automática. Não era muito iluminada, mas via-se com perfeição. Movimentada, sobe e desce de passageiros semiapressados. Lembro bem da escada rolante. De cada detalhe dela. Lateral prateada já escurecida pelo tempo. Seus mecanismo rangendo. Uma escada de poucos degraus porque, como tudo naquela estação, precisava se adaptar ao pé direito baixo. Mas funcionava bem para atender a toda aquela gente subindo até as máquinas de venda automática.

Foi por isso também que levei certo tempo para entender o que estava acontecendo ali. Ele nunca comprava nada em máquinas automáticas.

Estranheza que não podia levar mais do que poucos segundos senão perderíamos a oportunidade, talvez a única, do meu caçula conhecer o seu avô.

Não hesitei um milésimo para gritar ao meu filho que o nonno estava ali! Ele, esperto como toda criança, hesitou menos ainda.

Não cheguei a ver a subida apressada pela escada rolante. Talvez passando por entre empurrões para chegar logo ao topo que era logo ali. Mas o que pude ver com toda a clareza foi o abraço entre esses dois.

Meu pai não estava surpreso. Estava entregue. Um abraço amálgama. Entre dois amigos que nunca haviam se encontrado. E não queriam mais se soltar.

Pude ver tudo isso bem de perto. E meu coração aqueceu. Porque finalmente se viram. E se deram tão bem. Intimidade não se explica.

Fez bem a eles esse encontro improvável, mas foi a mim que reconfortou ainda mais. Não consegui levar meu filho a tempo de conhecer seu nonno de quem pergunta até hoje quase diariamente. Porque afinidade não se explica.

Por isso, logo que vi meu pai subindo aquelas escadas rolantes, entendi que aquela estação de pé direito baixo existia unicamente para apresentar meu filho a meu pai.

E assim foi.

Um comentário em “Abraço amálgama

Deixe uma resposta