– Bom dia! Vamos tomar café?
– Sim… Vai descendo que já vou.
– Meu Deus!!
– O quê????
– 376 mensagens no grupo das gurias!!!!
Diálogo rotineiro em 2016, certo?
Vejam bem, essas “gurias” são 7 moças. Minha mulher não estava participando da conversa, então estavam entre 6. Ou seja: 62,666 mensagens per capita. Em pouco tempo, trocaram quase quatro centenas de mensagens no WhatsApp. Que tanto assunto é esse?
Mas não para por ai. Ainda tem o grupo das mães da escolinha do caçula, santo cristo, quando se empolgam, estouram a franquia mensal da operadora, tenho certeza!
“Vai ter suco natural na escolinha?”: 421 mensagens para responder sim ou não.
“Já tirou o bico?”: mais 1283 mensagens.
E o grupo com os amigos da época da escola em que sempre tem alguém para, além de te expor em fotos ridículas do passado, ainda se dar ao trabalho de passar a semana inteira repetindo um monótono “temos de nos encontrar galera”. Uhu.
E a parceria do futsal que, apesar da combinação “sem put…”, segue mandando diariamente as fotos censuradas que a tua mulher sempre descobre antes de ti.
Maravilha, adoro tecnologia, a internet e seus aplicativos sensacionais. Acho ótimo conversarmos e trocarmos informações. Mas quem tem tanta informação? E o tempo todo? E quem precisa de tanta opinião? De todas essas, a pergunta que realmente fica para mim é: quem está vivendo a vida dessas pessoas enquanto elas estão trocando zilhões de mensagens no Whats?
Quem está fazendo o suco natural enquanto discutimos a importância da fruta na vida do meu filho?
Quem, de verdade, está presente com teus filhos?
Quem, diabos, está transando enquanto passam a noite digitando?
Outro comportamento que me intriga: é sabido que temos diversos grupos no Whats. Então, que vida tem a criatura que cola, EM TO-DOS ELES, aquelas figurinhas com dizeres de “bom dia”, “boa semana”, “boa vida”, “tire um tempo para você, você merece”? Que tempo é esse, criatura? Que tanta felicidade é essa?
E a figura que entra em 25 grupos diferentes, clica 25 vezes em selecionar, escolhe 25 vezes a imagem e envia 25 vezes o mesmo meme contra a Dilma? Até no grupo que trata da goteira no telhado do prédio? Porquê? Quem pediu? Não foi eu!
Sério, estamos num momento em que achamos o que temos a dizer tão importante, tão fundamental que deus me livre não ter opinião. Não por nada, tem tanto blog pessoal por ai. Mas juro, sério mesmo, nunca perguntei tua opinião sobre tudo no grupo “Reparos do condomínio”.
De novo, quem está vivendo a vida da pessoa que gasta seu tempo colando postagens de grupo em grupo? Em quem essa pessoa está deixando de colar na vida real?
Isso sem falar nas pessoas que não foram apresentadas à estrutura frasal e
acham
que
cada
palavra
deve
vir
numa
linha
gerando
intermináveis
bléings
de
avisos
de
nova
mensagem.
Por que, Jesus?
Eu já ouvi muito, e quem de vocês já não escutou, a frase: “meu pai não sai desse celular”?
Aqui em casa “já fui desses” e agora estou tentando implementar a política fascista do “celular zero” para reconquistarmos um tempo que tínhamos à nossa disposição e que, do nada, sumiu. Evaporou.
Eu sei que somos super importantes e imprescindíveis, mas posso garantir que ninguém vai morrer se ficarmos umas horas sem enviar 381 mensagens fundamentais no Whats.
Nudes são bacanas, mas conversar com a família também é bem motivador.
Entendo que eventualmente o filho pré-adolescente pode ser um pé-no-saco, e a vontade é de sumir num grupo desses, mas vamos combinar, ninguém te enganou dizendo “tu vai ver, a adolescência é a melhor fase deles, uns amores!”.
E pela última vez: você acha mesmo que está cuidando do seu filho quando gasta esse tempo todo numa discussão sobre os gominhos do suco de laranja do céu espremido na hora?
Não, meu amigo, minha amiga. Não está.
Você está é deixando a vida passar enquanto tecla ‘kkks’ e ‘hehes’.
Sugestão de pai mala: guarda essa energia toda para quando tiver, novamente, tempo lá na vida real.
Alberto!
Teu blog chegou até mim por essas maravilhas da tecnologia! Esse é o lado bom da coisa. Muito bacana teus textos. Keep going.
Ab., Laura
Laura, que legal! “Volte sempre”! Beijo, Alberto