Aquele passeio seria especial e eu ainda não tinha como saber.
Não lembro bem há quanto tempo não fazíamos aquele trajeto apenas nós. A verdade: nunca havíamos feito aquele caminho apenas nós.
Permiti me manter dois passos atrás naquela calçada brilhante, efeito da água da chuva que caíra trinta minutos antes.
Via no reflexo do piso irregular o amor de mãos dadas. Sem imposição, sem obrigações. Estado mais puro do sentimento mais doce.
Em seguida, partiram lado a lado, braços displicentemente largados para trás e seguros por suas próprias mãos, como sábios costumam passear pela vida.
Eu a dois passos. O suficiente para registrar em minha retina (para sempre) a cena que mudaria algumas decisões futuras.
Em seguida, porque passeios espetaculares são assim mesmo, um abraço repentino. Brotou em meio ao nada. Espontâneo. Verdadeiro.
O brilho da calçada encharcada não daria mais conta de refletir a potência do sentimento que transitava por ali.
Coincidência ou não, (nada é por acaso) para abraçar a luz emanada daquele abraço ergueu-se um arco-íris. Um não. Dois.
Por testemunhas, as lentes dos celulares de toda cidade que saira às janelas para registrar o espetáculo multicolorido que ganhou até as capas dos jornais.
O que apenas eu sabia, porque meus dois passos de distância garantiam, é que mais do que o brilho do sol em partículas d’água, a causa verdadeira desse duplo espetáculo nos céus da nossa cidade, era o abraço verdadeiro e demorado entre o Gianluca e o Stefano, meus parceiros de caminhada ao final da tarde daquele domingo.
Filhos são raios de sol em nossas vidas.