Pedro

O Pedro é um menino sortudo. Vi nos olhos dos pais e das manas dele um amor profundo, verdadeiro e tão cristalino quanto seus olhos verdes.

Esperei me afastar dele e da sua família para sentar no primeiro banco que encontrei e botar pra fora o que não cabia mais no meu peito.

Pedro me fez chorar. Vi nele a inocência do Beto de mais de 30 anos atrás.

Meu choro foi de orgulho por poder mostrar ao Pedro, mas principalmente para a Betina e o Marcos, pais dele, que é possível ser feliz sem uma mão.

Bobagem minha. Pedro é feliz. Independente de ter me conhecido. Tem 4 anos e já sabe que somos todos diferentes. E absolutamente iguais.

Não me lembro como eu era aos 4 anos, mas lembro de ter sofrido aos 10, 12, 20 e também aos 30. Lembro de um mundo mais hostil em que todos eram perfeitos. Menos eu.

Hoje, vejo um mundo mais plural. Um mundo onde o Pedro ganha valor pelo que é e não pelo número de mãos que tem.

Não sou cego, nem nego a inaptidão da sociedade com as deficiências das pessoas. Só acredito que já foi muito mais difícil.
Pedro, sei que tu tem medo. Já tive também e está tudo bem. Vou te contar um segredo: tem gente “perfeita” por aí com muito mais imperfeições que a gente.

As pessoas que se assustam com a gente têm muito para aprender. E, mais um segredo, somos nós que vamos ensiná-las. Sem muito esforço. Ocupando nosso lugar na escola, na universidade, no cinema, no barzinho ou na missa.

Sorrindo como tu sorri. Iluminando os ambientes com a luz dos teus olhos verdes. Assim é que se ocupa o mundo.

Tem uma frase que eu repito por onde passo. Vou escrever aqui e, felizmente, nem vai fazer sentido para ti: uma pessoa com deficiência tem inúmeras limitações quando ela acredita no que dizem para ela.

Segue confiando no amor que te cerca porque, definitivamente, ele é o que vai te fazer completo.

 

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Publicação da foto autorizada pelos papais deste tesouro.

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