Olhares

Uma das coisas que eu gosto de fazer, entre tantas bizarrices que nem conto para vocês não fugirem de mim, uma das minhas diversões, é observar pessoas. Sem julgamentos.

Como agora, sentado no aeroporto confortavelmente numa poltrona dura como banco de praça, tenho horas de espera e de observação.

Entre executivos e famílias em férias em pleno dia útil, vou me apropriando de despedidas alheias, de abraços emocionados e pelo inglês divertido do atendente da companhia aérea.

Nesse universo, ossos do ofício, sempre busco pais e filhos. Mais precisamente, a troca de olhares entre pais e filhos.

Algumas vezes, aperto no coração, não há troca. Seja pelo stress do voo atrasado ou pela irritação do cansaço após tantas escalas e espera. Outras tantas, simplesmente os olhares não se encontram: crianças relegadas ao eletrônico, adultos presos à atualização de suas redes sociais. E a vida embarcando para novos rumos enquanto perdem o melhor da viagem.

Justamente aqui, na sala de embarque confirmo minha teoria nem tão inédita: amar um filho é simples demais. Basta os olhares se encontrarem. E se enxergarem. Basta um pai escutar de verdade seu filho. E continuar o diálogo. Ah como brilham os olhos de uma criança cujo pai se interessa pela conversa gerada.

Quando vejo esse brilho no olhar, até o inglês do atendente melhora! O stress se dissipa. É uma fagulha que gera uma onda de harmonia.

O exemplo vale para qualquer lugar. Da primeira classe do próximo voo ao campo de futebol improvisado na periferia.

Como eu disse, é muito simples e requer apenas conexão. Ligação afetiva que rola apenas no presente, aquele tempo entre o que já passou e o que ainda está por vir, e no qual as coisas acontecem pra valer.

Viver o momento presente garante o amor futuro, cura as dores do passado e fortifica as pontes do amanhã.

Interesseiro, também uso essa observação de pais e filhos para suprir a falta que me fazem os olhares dos guris nessas jornadas em que me afasto deles. Afinal, quando os olhares se encontram geram tanta potência que alimentam até os amores dos enxeridos em aeroportos que, ao invés de cuidar da sua vida, ficam observando os afetos alheios.

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