Ego, autoestima e paternidade

Muitas vezes me julgaram esnobe ou metido quando na verdade eu era tímido, uma confusão clássica. Outras vezes, egocêntrico. Mal sabiam eles o vazio que me consumia.

A foto que ilustra este texto reúne um pouco de todos esses mitos. E os reforça. Apenas para chamar tua atenção porque aqui no meu peito, onde está o que me comanda, há – finalmente, uma bela semente de autoestima germinando.

Dia desses, em um evento, me sai com a seguinte opinião sobre selfies: “o ego pede, o bom senso impede”. Público gostou e eu também. Não é toda hora que a gente cria uma frase dessas até com rima!

Para além de uma frase boa, precisei entender a diferença entre ego e autoestima. E mais, quis ter a certeza de como impactam na paternidade, nossa pauta por aqui. Qual pai, afinal, eu gostaria de ser: o egocêntrico ou aquele com autoestima?

Está claro para mim, o que separa um narcisista (egocêntrico) de alguém que se valoriza é o filtro da realidade. O ego que acreditou cegamente nos elogios que recebeu acaba desenvolvendo uma admiração excessiva de si mesmo, julgando-se melhor que os demais e, portanto, merecedor de toda a atenção possível. Até mesmo a atenção que deveria dispensar aos filhos, dedica a si. O filtro da realidade estava em falta nesta pobre alma.

Entenderam a bagunça, né?

Quando posto uma foto como a de hoje, contradigo minha tese lá do início deste texto? Absolutamente não. Porque agora já não falo mais em ego, mas sim em autoestima, justamente quando a gente aprende a se gostar mesmo usando o filtro da realidade. Apesar dos pesares, porque somos quem podemos ser. E gostamos disso. A realidade pode até ser dura com a gente, mas cabe a nós sabermos o que fazer com ela.

Perdi décadas tentando ser quem não era. Tentando ter uma mão que eu não tinha. O dia em que passei a valorizar quem eu sou, caiu a ficha. Um soco no estômago que, ao invés de uma dor colossal, gerou um sorriso solar que dificilmente tiro do rosto. Me libertou.

Isto é autoestima, e ela permite trafegar serenamente entre dias bons e dias ruins numa cadência natural, fluxo da vida.

Enquanto o ego pode cegar, uma pessoa com autoestima consegue olhar além de si. E esta é a chave que abre uma porção de possibilidades para exercermos nossa paternidade.

Autoestima entrega generosidade pois estamos bem resolvidos com a gente. Temos energia para dedicar ao outro, ao contrário do egocêntrico, sempre olhando para si, até afogar-se em si mesmo.

E agora sim podemos falar em paternidade.

Um pai egocêntrico é aquele que terceiriza o filho constantemente para atender as suas próprias necessidades. É aquele que só valoriza o filho que seguir o caminho que ele, o pai, traçou.

Um ego tão atuante rouba a cena e gera uma criança insegura, sempre em busca de agradar um pai (ou mãe) inatingível em sua perfeição. Acreditem: este filho nunca conseguirá atender às expectativas deste pai perfeito. Nasce aí uma série de problemas. Entre elas, um filho sem autoestima.

É um ciclo. Não precisamos repeti-lo a exaustão. A hora de interromper é aquela em que entendemos que um pai bem resolvido é um bálsamo para a família. Cria oportunidades, gera afeto e acolhimento. E é um homem mais feliz.

Uma autoestima saudável nos permite a doação necessária para entender que nem sempre seremos protagonistas na paternidade.

Precisamos aceitar: ser pai é assumir um protagonismo de coxia. Deixamos de ser atores no palco para assumir a direção do espetáculo até entender que nossos filhotes estão prontos para assumir a direção de suas próprias vidas.

Então, hoje, posso usar uma foto dessas ou outra em que apareço de corpo inteiro, com minha deficiência, simplesmente porque este sou eu. Simples assim.

Não estou me exibindo, estou me aceitando. Experimenta tu também, é libertador.

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